sexta-feira, 16 de maio de 2014

O vento.



A sala tem uma cor convidativa, as pessoas entram descalças. Ele espalhou fotos minhas pela casa, disse que é pra nunca perder a vontade de viver. Vou trocar por fotos nossas, ele há de entender que ficará muito mais bonito. Ele queria cerveja na geladeira toda sexta, eu não concordei, claro. Então ficou combinado um fim de semana sim e outro não.
Escolhi todas as louças brancas e a mesa de madeira. A cor do quarto ele que escolheu, azul, a cor do nosso paraíso. Tem um adesivo no teto.

O nome do nosso primeiro filho será Judá Silva (Judá do pai e Silva do meu avô). Nome forte, não é? Combina com o nosso menino. E o da nossa menina seria Maria Alice, um doce. E pro caso de uma próxima, Moa, já decidimos.

Ele encostava-se ao meu barrigão de grávida e cantava:
-Você não sabe o quanto eu caminhei pra chegar até aqui.
Adoraríamos ouvir a voz mais linda do universo bem ali, coladinha, cantando pra nós.
Eu durmo do lado direito da cama, porque ele escolheu o lado em que sempre ganhasse um beijo ao acordar, e quando eu acordo, sempre viro para o lado direito. Gosto quando o travesseiro fica com seu cheiro.
Ah! Ele quer um jabuti como bicho de estimação, porque o bichinho provavelmente só morreria depois de nós. Ele disse que vai pintar o casco do animal imitando uma bola de futebol e deu a ideia de eu fazer as unhas. Mas eu tenho medo de jabuti. E ele ri, diz que o jabuti não vai me fazer nada.
Nossa casa não tem tapetes, nem cortinas, tenho alergia. Nossa casa é bem arejada e clarinha. Nossa casa é um plano, tudo isso são só planos pra um futuro que a gente nem sabe se vai existir.
Mas a gente quer ver.  Dane-se, somos loucos. Dois loucos que não sabem o que fazer com a própria sorte. Poucos chegarão aonde chegamos. Espero que eles consigam sobreviver. Nós estamos conseguindo.

 


Pois é, tu deves não ter entendido nada. Por que as pessoas nunca entendem muito, sobre essa "doce palhaçada do destino". Sabe, se um dia as coisas derem certo. Digo em todos os aspectos, estando a gente juntos ou nem tanto, obviamente, mas, se eu te ver bem e, vice-versa, te ver no lugar que tu quis desde o começo e vice-versa, será muito legal porque poderíamos contar para nós mesmos como foi até chegar lá e que nesse caso tiveram certos momentos em que... Quando a gente resolveu acreditar no valor que as coisas intangíveis têm, no valor que tem essa doença de achar que se está doente.
Também: No misterioso valor da loucura que nunca disse ao que veio: bem ou mal intencionada, eis a questão.
No valor bem pesado que um orgulho têm.
No valor que tem uma amizade: a companhia que se tornou rotina.
No valor que tem a verdade: nem sempre está para nos servir, mas, de toda verdade dá para se tirar alguma coisa.
No valor que tem o tal do amor: platônico, impossível, escondido, inconveniente, utópico, convidativo, perigoso, doloroso, bobo, inviável, inalcançável, nobre, pulsante, emocionante, transformador e tisc; Não importa o termo, ele escolhe sempre os mais otários e tem o dom de não ser impedido por nada, quando tem que ser, nada impede que o amor se manifeste em quaisquer das suas formas.
No valor que temos eu e tu, juntos: a soma das nossas qualidades é bem maior que o saldo dos nossos defeitos.
O valor que tem a cumplicidade: inexplicável, é dar-se sem esperar o que vem de troca.
O valor de um porre: é valido se isso ajudar a superar alguma tolice que a vida insiste em atravessar pelo caminho.
O valor da inteligência: nos ajudou e ajuda muito a entender e sempre buscar melhorar a experiência de uma relação entre dois seres HUMANOS, você e eu.
O valor de um grande medo: querendo ou não, o medo é que nos mantém vivos, atentos, defesa natural.
O valor da euforia: ouvir tua risada no telefone resume bem esse aqui.
O valor de um sonho: nos move, sem mais.
O valor de uma conquista: já é possível sentir o gostinho de algumas, mas queremos algo maior, nossas almas encontram-se famintas e completamente seduzidas pela divindade que é o sucesso interior, a autoafirmação.
O valor da saudade: sinal de que valeu a pena o que ficou.
O valor do tempo: nem me atreveria a falar sobre o pai de tudo.
O poder das palavras: Uma vez ele me disse: - Tenho meus olhos em você e a tua boca de batom é uma arma que aponta pra minha cabeça. É descarada.
Bastante coisa não é? E tenho certeza que ainda tem muito mais, muitos valores em nossa riqueza, guardada nesse forte que a gente acabou construindo sem querer querendo. Tua sombra é a minha casa e a minha casa está em qualquer plano, desses em que a gente plana sem saber onde vai parar.