quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Não sou nenhum mendigo, nem um estrangeiro: Eu tenho um abrigo, tenho um refúgio.

O fantasma que devora nossa criatividade é impiedoso e não procrastina, quanto mais precisamos dela, mais o fantasma a leva para longe, por causa disso só escrevo agora quando não puder deixar de faze-lo. Mirando uma superfície plana e infinita, nesse exato momento, como um vulto de inspiração no espaço mais escuro que chama a atenção mas não a prende, cá estou em nada, tentando não sangrar junto com o mundo, a escrever sobre carne e osso.

Que pode ser mais visceral pra poesia se não a língua?
Que se leva em consideração ao escrever? A emoção do que rima!?
Essa vontade de escrever solto, desprendido de qualquer responsabilidade literária, foi pra minha vida, o que eu mais desejei pro mundo. Todo mundo quer paz, todos querem incessante paz mas sem aplicar os métodos necessários. Chego a ficar sóbrio ao escrever, com medo de imitar a mídia escrevendo mais uma matéria onde a santa ignorância deixa de ser uma bênção. E me contento em ficar difuso o resto do tempo.

Queria sofrer um esplendor visionário, mas não consigo, fico pensando em conflitos armados, bombas, fotos de crianças com rostos marejados. Assim não consigo escrever um futuro aceitável, mesmo que seja logo ali, é triste toda essa guerra social dividida em tantas camadas, é de perder a conta. Queria assunto menos complicado, pelo menos pro poeta, pelo menos que nem o amor, mas esse por exemplo ficou tão raro. Só restaria então apelar com poesia recheada de vocabulário que ninguém conhece, temas batidos, signos, afim de tentar vender uma forma em que ela consegue ficar atraente, mas eu ainda nem sei se quero escrever isso, ou se só quero que esse termine logo. A essa altura você pensa que o autor quer mídia, rodeando pelo texto, deixando algo aberto,
Se mídia for sobretudo inclinar as pessoas a seguirem determinado modelo de pensamento, não quero mídia.

Quero um médio sonho se tornando realidade, quero crer, se for só o que resta, que o mundo ainda não deu início ao seu ciclo final, que ainda ainda exista coisas bonitas para os pequenos de amanhã verem. Tive um sonho e gostaria de compartilhar:

"Eu estava no corpo do meu irmão de 7 anos, sozinho, acordava por baixo de escombros e muito debilitado, mal tinha força pra tirar uma barra da ferro que provavelmente sustentava uma parede rústica a pouco. Ao conseguir levantar, começo a procurar pelos outros na casa, a essa altura, uma enorme nuvem branca impedia que eu visse qualquer coisa pela janela, e na parte de dentro daquilo que provavelmente era a minha casa, estava bem difícil respirar.

Alguns minutos após a nuvem dar uma leve dissipada, consigo chegar até a rua, vejo algumas manchas de sangue pelo chão, mas nenhum sinal de que tem alguém por perto.
Ainda não estava assustado o suficiente para deixar de procurar por alguém vivo, e corri até o fim da rua, tendo que desviar por todo tipo de coisa que ia de roupas queimadas a pedaços de rocha enormes parecendo pequenos cometas caídos do céu, ah o céu, estava laranja claro esse dia, fazendo tudo aqui embaixo parecer mais vermelho.

Após chegar ao fim do terceiro quarteirão que percorri, não restava duvidas, aquilo era um sonho e eu estava simplesmente sozinho em uma zona de guerra. Sentei e agarrei os joelhos contra o peito, a essa altura do sonho eu já deveria ter acordado, mas eu ainda estava ali e chorei estranhamente, uma dor tão distante de mim, e tão carregada.

Foi quando fechei os olhinhos com cílios duros de poeira e tive uma brevíssima miragem:
Eu ganhara asas do gigante Albatroz,
E voaria como avião pra longe dali,
Reencontrando todos, a mãe e o irmão."

Acordei na minha casa, e quis abraçar cada ser da minha família, um por um. Refleti.
Ah, a poesia quisera ser Alá,
Quisera ser Iemanjá, Quisera ser Deus,
Para tê-lo transformado, aquela criança perdida, num peixinho sírio
Que chegasse saltitante à praia Brasileira.
Ah, a poesia quisera ser um chefe de Estado
Que tivesse alma,
Que retirasse das fronteiras os cães e o arame farpado,
Que poupasse a humanidade desse crime hediondo:
Um menino, reduzido a um corpinho onde a esperança tem gosto de poeira.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Quem nos observa?

Certo dia duas crianças inseguras decidiram juntar suas rotinas de pouca cor para enfrentar ferozmente um mundo de magia que sempre se houve falar por ai, mas que elas ainda não conheciam.
Viveram durante um tempo em uma casa simples e pequena, não era preciso possuir muitas coisas para ocupar todo o espaço da casa, o imenso amor que a pouco nascera dentro dois dois habitantes, era mais que o suficiente para preencher aquele sutil lugarejo composto de seres que demonstram agudeza de espírito.

Como era de se esperar, ali eles viveram alguns dos momentos que elegeram como transformadores para sua vida, verdadeiras experiências que acontecem com muita força e vigor: Temporal intenso, sofrimento instantâneo e a felicidade a dois como problema individual.
Porém, como eram apenas crianças, pouco era o medo que eles tinham de brincar e mesmo num lugar onde as próprias crianças ditam as regras, eles pareciam finalmente encontrar uma ordem para que tudo aquilo funcionasse como um grande sonho, um sonho de criança.

Duas crianças e energia sobrando, quem sofria mesmo era a casa, que com o tempo, foi se confundindo com as crianças até se tornarem uma só saudade de guardar a outra em cada partida e despedida. Para as crianças, a casa simbolizava o berço do seu amor, e para a casa, as crianças simbolizavam o errante, a intuição humana lutando contra possibilidades impossíveis.

Em tempo de férias escolares, não se ouvia o característico som das crianças transitando e usufruindo do seu tão importante espaço, durante esse tempo, imagino que a casa chore toda a noite com o vazio ali plantado sem aqueles dois e agora ela está fechada a bastante tempo.
E essa não é a breve história de duas crianças, nem da casa... Essa história é para aqueles que acreditam que há sempre um lugar no mundo disposto a ser o palco para quem se ama, esses lugares geralmente são compostos de memória, ancestralidade, beleza e identidade.

Então, caso você já tenha sido criança, morou em algum lugar considerado único, teve medo de crescer e juntou sua rotina a de um semelhante. Parabéns, essa história foi escrita para você e por você então! Pois não importa a fôrma, se você capricha no carinho como faz as coisas, com toda certeza você já fez algum lugar nesse mundo se sentir pra lá de especial.