terça-feira, 12 de agosto de 2014

Eu e meus exageros

Ando tão desconfiado que no último fim de semana nem vi se minha sombra bateu ponto, ou se foi eu quem trabalhou para ela.

Sombra por onde você andou?
Por favor não saia por ai imitando tudo o que eu faço, pois não quero que cheguem em meus ouvidos os comentários sobre você e seus exageros.

Sombra, toda a vez que a luz toca o meu corpo, você aparece como a mais perfeita réplica de mim, mas eu realmente não sei o que você está reivindicando, e eu não queria desconfiar tanto de você, talvez eu não te conheça tanto quanto imaginei um dia.

Sombra, como eu pude me distrair tanto ao ponto de nem perceber a hora que você voltou pra casa?
Muito bem, se passei um fim de semana inteiro sem te ver, não significa que você não estava lá comigo na verdade, mas tudo bem, admito, eu deveria ter reparado mais nos seus passos.

Sei que você pode ser tão independente quanto eu, mas como você é parte de mim, eu sempre hei de ter tais preocupações. Ok sombra, então fica assim, você pode sair sempre que quiser sem dar maiores satisfações, relatórios detalhados, afinal como eu, você sempre chega e vai embora sorrateira.

Porém minha sombra, eu só queria saber quem lhe apresentou esse instinto libertário, preciso dar uma dura nessa pessoa.

Por que sombra, estou realmente muito desconfiado de que você pode acabar mesmo sendo feliz.
E eu não criaria esse caso todo, por acaso.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Mute

O que quer dizer esse teu silêncio se tentar se expressar está tão na moda? Todas as palavras que você não está me dizendo agora estão ebulindo das enfermarias ou em algum boteco pelo ainda não satisfeito, porém sorridente cliente apaixonado. Pode ser que nalguma despedida haja palavras em via de mão dupla das quais você não está dizendo também.

O que pode dizer esse teu silêncio se sempre tivestes oportunidade de sumir de vez pela contramão mas nunca o fez e agora anuncias ainda que calada, que esses teus olhos já ateus não concentram mais aquele brilho que eu constatei de tão curta distância e mais pareciam dois grandes espelhos negros, separados pelas saliências da sua testa que franzia ao teu riso, me levando de repente em via expressa pelos cantos desse reflexo para o pôr-do-sol mais calmo do mundo.

O que insiste dizer esse teu silêncio se tua fala cala que grunhe sem sucesso da tua garganta oca em cinzas manhãs, drena para o resto do teu corpo através de impulsos nervosos que fazem teus músculos dançarem em linguagem corporal, mensagem que eu não posso decifrar quando tento aproximação, por conta da distância que nos separa.

O que quis dizer esse teu silêncio todo se de todas as versões que eu imaginei você não era nada econômica com as palavras. Agora eu busco o som de uma vogal em foto tua para tentar ouvir algo desse silêncio que há algum tempo está querendo me dizer o óbvio que eu ainda não sei quê.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

O vento.



A sala tem uma cor convidativa, as pessoas entram descalças. Ele espalhou fotos minhas pela casa, disse que é pra nunca perder a vontade de viver. Vou trocar por fotos nossas, ele há de entender que ficará muito mais bonito. Ele queria cerveja na geladeira toda sexta, eu não concordei, claro. Então ficou combinado um fim de semana sim e outro não.
Escolhi todas as louças brancas e a mesa de madeira. A cor do quarto ele que escolheu, azul, a cor do nosso paraíso. Tem um adesivo no teto.

O nome do nosso primeiro filho será Judá Silva (Judá do pai e Silva do meu avô). Nome forte, não é? Combina com o nosso menino. E o da nossa menina seria Maria Alice, um doce. E pro caso de uma próxima, Moa, já decidimos.

Ele encostava-se ao meu barrigão de grávida e cantava:
-Você não sabe o quanto eu caminhei pra chegar até aqui.
Adoraríamos ouvir a voz mais linda do universo bem ali, coladinha, cantando pra nós.
Eu durmo do lado direito da cama, porque ele escolheu o lado em que sempre ganhasse um beijo ao acordar, e quando eu acordo, sempre viro para o lado direito. Gosto quando o travesseiro fica com seu cheiro.
Ah! Ele quer um jabuti como bicho de estimação, porque o bichinho provavelmente só morreria depois de nós. Ele disse que vai pintar o casco do animal imitando uma bola de futebol e deu a ideia de eu fazer as unhas. Mas eu tenho medo de jabuti. E ele ri, diz que o jabuti não vai me fazer nada.
Nossa casa não tem tapetes, nem cortinas, tenho alergia. Nossa casa é bem arejada e clarinha. Nossa casa é um plano, tudo isso são só planos pra um futuro que a gente nem sabe se vai existir.
Mas a gente quer ver.  Dane-se, somos loucos. Dois loucos que não sabem o que fazer com a própria sorte. Poucos chegarão aonde chegamos. Espero que eles consigam sobreviver. Nós estamos conseguindo.

 


Pois é, tu deves não ter entendido nada. Por que as pessoas nunca entendem muito, sobre essa "doce palhaçada do destino". Sabe, se um dia as coisas derem certo. Digo em todos os aspectos, estando a gente juntos ou nem tanto, obviamente, mas, se eu te ver bem e, vice-versa, te ver no lugar que tu quis desde o começo e vice-versa, será muito legal porque poderíamos contar para nós mesmos como foi até chegar lá e que nesse caso tiveram certos momentos em que... Quando a gente resolveu acreditar no valor que as coisas intangíveis têm, no valor que tem essa doença de achar que se está doente.
Também: No misterioso valor da loucura que nunca disse ao que veio: bem ou mal intencionada, eis a questão.
No valor bem pesado que um orgulho têm.
No valor que tem uma amizade: a companhia que se tornou rotina.
No valor que tem a verdade: nem sempre está para nos servir, mas, de toda verdade dá para se tirar alguma coisa.
No valor que tem o tal do amor: platônico, impossível, escondido, inconveniente, utópico, convidativo, perigoso, doloroso, bobo, inviável, inalcançável, nobre, pulsante, emocionante, transformador e tisc; Não importa o termo, ele escolhe sempre os mais otários e tem o dom de não ser impedido por nada, quando tem que ser, nada impede que o amor se manifeste em quaisquer das suas formas.
No valor que temos eu e tu, juntos: a soma das nossas qualidades é bem maior que o saldo dos nossos defeitos.
O valor que tem a cumplicidade: inexplicável, é dar-se sem esperar o que vem de troca.
O valor de um porre: é valido se isso ajudar a superar alguma tolice que a vida insiste em atravessar pelo caminho.
O valor da inteligência: nos ajudou e ajuda muito a entender e sempre buscar melhorar a experiência de uma relação entre dois seres HUMANOS, você e eu.
O valor de um grande medo: querendo ou não, o medo é que nos mantém vivos, atentos, defesa natural.
O valor da euforia: ouvir tua risada no telefone resume bem esse aqui.
O valor de um sonho: nos move, sem mais.
O valor de uma conquista: já é possível sentir o gostinho de algumas, mas queremos algo maior, nossas almas encontram-se famintas e completamente seduzidas pela divindade que é o sucesso interior, a autoafirmação.
O valor da saudade: sinal de que valeu a pena o que ficou.
O valor do tempo: nem me atreveria a falar sobre o pai de tudo.
O poder das palavras: Uma vez ele me disse: - Tenho meus olhos em você e a tua boca de batom é uma arma que aponta pra minha cabeça. É descarada.
Bastante coisa não é? E tenho certeza que ainda tem muito mais, muitos valores em nossa riqueza, guardada nesse forte que a gente acabou construindo sem querer querendo. Tua sombra é a minha casa e a minha casa está em qualquer plano, desses em que a gente plana sem saber onde vai parar.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Penumbra.

Vai ver era hora de dormir e não de escrever, afinal, passa da escura meia-noite e ainda tenho a vida toda pra pensar ao menos uma linha que não sirva pra você. 
Será que é melhor escrever quando... Estiver um pouco mais claro aqui dentro? Hum, se eu recorrer a tecnologia dos eletrônicos até que saem uns versos. 
Não estou dizendo que é a mesma coisa do que abrir a cortina, claro. 
Mas agora tudo o que vem de fora escorre sorrateiro pelas calhas e termina em algum ralo que eu sei lá onde vai dar. Queria uma interferência capaz de estimular fendas diferentes dessas de apenas fechar os olhos e imaginar uma miragem no deserto, sentindo a volúpia ao lamber cada gota daquela poça de água aparente. 
Ela, que se fechou a falta de inspiração e ar fresco, me cega no escuro desse quarto que sufoca a falta de tudo o que ainda não escrevi vindo de ti. E por incrível que pareça eu sigo tentando escrever no escuro porque mesmo que seja uma pequena mania talvez, acho que pra abrir a cortina tem hora.  
Esbarro no tempo que eu não vejo passar aqui dentro. Queria mesmo era enxergar no escuro e escrever muito mais sobre tudo isso que eu não tenho para falar.  
Sabia que no escuro o tempo passa diferente? Passa sombrio, passa trancafiado, áspero denso.
  
Passa a vontade de escrever. E eu não vejo a luz no fim do túnel ou o fim da tempestade, só vejo em minha frente essas palavras correndo como quem brinca de pique logo ali, rogando serem escritas em círculos, por alguém paciente. 
Encho outro copo até a borda, vou perdendo o medo,  deixo essas palavras transbordarem até formar o texto mais coeso possível. 
Como se eu não me conhecesse.  
Como se eu não odiasse destruir minhas certezas que viram cinzas todos os dias em que eu te odeio pra ser um pouco justo comigo.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Escapou.

Maluco não estou, maluco sou
bati forte com a cabeça
que foi só pra confirmar
tem maluco com destreza
pra fugir de se curar
a loucura é liberdade e
a lucidez é só prisão
lucidez é proteção
a loucura é doação
loucura é sabedoria
a lucidez parece castigo
a lucidez é passageira
a loucura parece contigo
tenta matar, mas sobrevive
tenta expressar, logo reprimida
permanente
não perecível
efêmero, não
substancial sim
mas não vital
até porque a morte
representaria o fim
ou recomeço
recomeçar representaria a morte
fim de uma, começo de outra
loucura.


Olha esse delírio.

Tenho me convencido cada vez mais que estou funcionando num tempo diferente das outras pessoas, assim como elas, também tenho compromissos, deveres, algum plano de carreira e aquela correria habitual. Preciso, assim como essas pessoas, fazer tudo isso com a finalidade de conseguir sempre mais dinheiro, algum status, uma falsa seguridade e tentar ser inserido no "meio", quer dizer, precisava, é, eu precisava até um tempo atrás... Caiu a ficha da demasiada pressão que sofremos de todos os lados diariamente para sermos mais um correndo entre tantos sonhos que sangram e escoam pelas ruas da cidade, correndo feito louco, onde olhar pro lado já é perder o foco, mas que foco?

A vida não deve ser devota do sucesso exclusivamente, viver pode ser quem sabe, saber colocar o movimento certo e criar o ambiente para a construção de grandes momentos. Quando eu for embora desse mundo eu só espero que alguém diga:
-aaaaa o fulano, esse soube viver.
Quem não gostaria?

Como seremos lembrados é um ponto que afronta a humanidade desde que se pregam as metáforas de Absalão, Babel e Nabucodonosor: "Absalão fez um monumento a si, mas antes dele, a geração de Babel empenhou-se na construção de uma torre para que o seu nome fosse notório. Mais tarde, Nabucodonosor, repetia a si mesmo todos os dias que era imortal e que seu poder erguera o grande império babilônico.
Ridículo! Esforço vão! Absalão ficou conhecido não pelo monumento que construiu, mas por ser um rebelde que se amotinou contra o próprio pai e que morreu pateticamente. Babel não ficou conhecida por sua engenharia, apenas por sua estupidez e Nabucodonosor, ao rastejar como bicho, nos deixou a lição de que a vaidade é ridícula" (Godin, 2011).

Queremos ser eternos, é uma doença natural do homem acreditar que pode. A resposta da teoria de nosso legado pode estar na equação do significado da nossa existência, que só pode ser resolvida quando encontrado o verdadeiro valor do amor que temos por nossas vidas, junto as outras variáveis como vaidade, poder, coragem e fragilidade que passam e morrem pateticamente. Esse valor não é a soma, desleixadamente falando, de todos os dias em que conseguimos sorrir, o sorriso é um bem. Se alguém te faz sorrir (e não rir) isso deve ser refresco pra alma. A gente pode rir o dia todo, mas só a gente sabe quando está sorrindo. Ninguém usa sorriso como escudo da tristeza ou pra mentir que está bem. O sorriso falso sai torto, todo feio. A risada não, ela sai alta, mas nem todo som alto emite boas vibrações. As lágrimas podem muitas vezes lavar o rosto todo e podem rolar sobre os lábios, cobrindo um sorriso. Risadas não saem entre lágrimas, só sorrisos. Analise essa diferença.
Saiba quem merece seu riso ou todo o seu sorriso. Saiba cantar com um riso, e até arrisque encantar com um sorriso. 

Eu ainda não resolvi a equação, se você também ainda não resolveu, deixo duas perguntas que podem te ajudar a chegar a qualquer lugar, tá bom, ou a lugar nenhum.
Usamos nossa inteligência para ajudar ou para arrasar a vida das pessoas? 
Construímos sentimentos sólidos por onde passamos e participamos do destino da nossa cidade?
Difícil né? Ainda mas pra quem acha que essa zona vai ser louca até o fim.