sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Tenha ido.


Secreto desejo do poema
Censura impossível do poeta 
Você não virá hoje 
Como não veio antes 
Pouco provável que 
Apareças amanhã 
Mas do fundo da página 
Você nunca foi embora 

Tenha ido.

domingo, 20 de agosto de 2023

De frente pro mar.

De frente pro mar

Às dezoito e quarenta e pouco
existe essa luz
Que pinta uma cor no céu 
Do vinho ao amarelo, ao fundo laranja
de frente pro mar, chamo o vento
O sol continua brilhando
E as pessoas, no seu corre corre
A vida tende a continuar
Não há nada de novo, sob o sol
Nem mesmo esse quadro 
Agora em minha frente, sob o mar
Um pequeno milagre acontecerá?
Os planetas se desalinharam 
As doses acabaram
A noite chegou curta o suficiente
Ao passado me encaminho
Olhando pra frente, o mar
Nao temo o apocalipse inventado
Nem acendo esse cigarro
O que o mar não pode dar
Eu não quero pedir
Seria menos poeta se esquecido?
ou será mais poeta se lembrado?
Me sinto imenso
De frente pro mar.

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Nem sequer.

Ébrio e saudoso, não escrevo este poema. 
Sequer me coloco alheio à alegria do mundo. 
Não acendo este cigarro. 
Nem me coloco à deriva de meus pensamentos. 

Há, no entanto, sentimento peculiar 
Que anuncia a felicidade de estar aqui, 
Em tempo dissonante, 
Circunstância idêntica, 
Lugar comum, nossas vidas as mesmas. 

Não falamos sobre antigas namoradas, 
Sequer olhamos para trás e rebobinamos o destino. 
Nem nos sentimos infelizes; 
E eu, não produto de uma não nostalgia, 
Encontro lugar exatamente onde estou. 
Feliz e conciso. 

Quem me dera, ó Dara, 
Tivesse preocupações, 
Não soubesse que vida viver, 
Me fizesse triste por não tê-la comigo, 
Em momentos como este, 

Em que não reflito sobre a vida, 
Sequer acendo este cigarro, 
E a desejo mais que meus pensamentos, 
Em vez de pensar em escrever este poema. 

(As ondas não me apagam. 
E às estrelas não me encaminho, 
De onde ela possa não vê-las 
Mesmo que tão distante...)

Brunno Freire

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Saara e o muçulmano.

Corpo na margem 
A água o devolveu 
Sopro da vida 
Escolheu o ateu 
Viva meu filho 
Não morra em vão 
Todo passageiro 
Terá que abrir mão 
Volte pra casa sem desespero 
Suporte encarar as marcas ao espelho 
Prefira sentir tudo que vem 
Pense nas almas 
Sem futuras primaveras. 

O pedido de ajuda 
O salto de coragem 
Tudo registrado 
Alguém pra conversar 
Respeito ao próximo 
Simpatia e admiração 
Dos anjos que eu vi 
No calor alucinante 
Do deserto ela estendeu a mão 
Duas confusões se encontram 
Colidem violentamente 
Acidente de trem-bala 
Chuva de pertences 

Encontro as pressas 
Num tato, contato 
Seus olhos fitam o chão 
Meus olhos fitam os seus. 
Coincidências remontadas 
Assunto promissor 
Contemplação do nu 
Gente humilde 
Estrada nova, areia no chão 
Olhos coloridos, alma lavada 
No suor que sai sem pressa. 
Dois sozinhos no deserto, 
Não mais, não depois 
Do cheiro que tem o Saara.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Poema do Banheiro.

Oh agua que cai e refresca, que renova e lava

A pele pecado que nasce, que amorna e guia

Em lajota percorre e some, com o sal que trouxe

Do corpo que é rico essa sobra, transborda dos olhos e escoa

O peso da alma que vem, com o tempo e canela

Das pernas ágeis dever, seguir movimentando

O moinho levando tristeza além, tubos e canos.

Athos Farias.

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Companheiros de Guerra.

O tempo de guerras já passou,
já somos o suficiente crescidos
para saber que existem tantas
outras saídas para a divergência.

A necessidade de sermos
mais em tudo, necessidade
pelo poder de haver mais
necessidade, transforma
líderes em crianças, pois
um ser humano recém chegado
a esse mundo, tem licença para
o erro, pois que sem este, nada
transformaríamos.

A sociedade vigente neste
século de inconformidades
mais me parece uma criança
teimosa, naturalmente.
Dualidade julgar a criança,
ou imaginar que essa prefere
não crescer.

Assim podendo seguir o
caminho do erro, disfarçado
durante o trecho em
progresso e auto-defesa.
Até quando a paz mundial
estará nas mãos daqueles
que fazem o negócio da guerra?

Há tantos mundos diferentes,
tantos sóis diferentes
e nós temos apenas um mundo
mas vivemos em mundos distintos.


quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Meu nome é Nuvem.

Escrever com afeto
Com palavas que caem
Do céu do imaginário
Feito gotas num pote
Coletar o milagre do verso
Fornecendo a matéria bruta
Com algumas revisões
Transformar um amontoado
De pingos tempestuosos
Em texto que se aproveita
Da insistência do autor
Para preencher de vazio
O isolamento e cerca-lo
De solidões recém nascidas
Pois quem escreve se lança
Ainda que momentaneamente
Ao que o ato de escrever, molhar-se
Ao não ter medo do verbo
A não temer sentir-se único
Reescrevendo a vida
A cada dia e o que ela traz
E o que dela fica
Aquilo que fica e
Aquilo que vai
Aquela que fica
Para as rosas, escreveu alguém,
O jardineiro é eterno
Como essa mania minha
Que ao longo dos sóis
Vem sendo regada
Minha inspiração
Ser a própria vida que levo
Um jeito nu de sincero
De trás de uma frase florescer
Sem te ver, moça, poesia
Mania minha de chover-te.